Conduta de atendentes de lojas veterinárias e tutores de cães e gatos em relação ao uso de contraceptivos e alterações patológicas decorrentes do uso de progestágenos em cadelas
Doutorado em Ciência Animal com Enfase em Produtos Bioativos
Autor: Pollyana Linhares Sala
Orientador: Ana Maria Quessada
Defendido em: 18/02/2020
Anticoncepcionais para cadelas e gatas são vendidos livremente no comércio veterinário. Na cidade de Umuarama (PR) foram selecionadas empresas que comercializam estes produtos. Estas empresas foram visitadas por estudantes de Medicina Veterinária que se passaram por tutores de cadelas e gatas questionando a venda do fármaco. Sobre a maneira de utilização do medicamento nas 35 empresas visitadas, em 33 (33/35; 94,28%) os atendentes informaram como usar o fármaco. Apenas em uma empresa, o atendente informou sobre os riscos de administrar o produto (1/35; 2,85%). Em relação ao auxílio de um médico veterinário, em apenas uma empresa (1/35; 2,85%) o atendente pediu ajuda a este profissional. Inferiu-se que a maioria dos atendentes não informa os tutores de forma adequada quanto à utilização dos contraceptivos. Após analisar a conduta dos atendentes na forma de comercialização dos anticoncepcionais, foram entrevistados 175 tutores de cães e gatos estudantes na Universidade Paranaense, campus de Umuarama. Do total de tutores (175), 145 são tutores de cães. Quando questionados se já haviam utilizado anticoncepcional em seus animais, a maioria declarou nunca ter utilizado (136/145; 77,7%). No entanto, 21,1% dos tutores afirmaram já ter utilizado (37/175). Entre os tutores que já utilizaram anticoncepcionais em cadelas e gatas (37/175; 21,1%), a maioria fez uso do medicamento por indicação de pessoas leigas (64,86%; 24/37). A maioria dos tutores declarou que sabia que a anticoncepcional causa doenças nos animais (118/175; 67,4%). No entanto 31,4% (55/175) informaram que desconheciam o fato. Tais resultados demonstram que são necessárias campanhas educativas para tutores sobre guarda responsável. Outra etapa do trabalho foi realizada no Hospital Veterinário da Universidade Paranaense. Foram utilizadas 20 cadelas hígidas que nunca haviam recebido anticoncepcional. Tais fêmeas foram submetidas a exame clínico e laboratorial (hemograma, bioquímicos, citologia vaginal, ultrassonografia abdominal). Após o exame, foi administrado em todas as cadelas o anticoncepcional injetável por via subcutânea, obedecendo-se as indicações do fabricante. Após 30 dias e 90 dias, as fêmeas foram submetidas novamente aos mesmos exames citados. Aos 90 dias, as cadelas foram submetidas à ovariohisterectomia. Durante o procedimento, foram colhidos os ovários e úteros para exame histopatológicos. Foi possível verificar que, aos 30 dias, não houve alterações no hemograma e ultrassonografia abdominal. Porém, 12 cadelas (60%) apresentaram hiperplasia mamária e duas cadelas (10%) apresentaram reação cutânea no local da aplicação do fármaco. Aos 90 dias, observou-se que 18 cadelas (90%) apresentavam sinais de hiperplasia endometrial cística, sendo que destes animais, cinco (27,77%) apresentavam conteúdo de aspecto purulento no lúmen uterino. No exame microscópico, apenas uma fêmea não demonstrou alterações patológicas, sendo a única que recebeu o contraceptivo na fase correta (anestro), indicada pela bula. As demais fêmeas apresentaram alterações que variaram entre alterações circulatórias a hiperplasia endometrial cística grave. Assim, foi possível concluir que uma única aplicação de progestágenos em fêmeas hígidas pode causar complicações leves a graves, o que requer que sua administração seja realizada exclusivamente sob orientação de um profissional médico-veterinário, de forma a minimizar as chances de ocorrência destes danos.
Anticoncepção. Atendimento veterinário. Fêmea canina. Hiperplasia endometrial cística. Proprietário.
Conduct of veterinary store attendants of dogs and cats owners regarding the use of contraceptives and pathological changes resulting from the use of progestogens in female dogs.
In Brazil, contraceptives for dogs and cats are sold freely in the veterinary trade. In the city of Umuarama (PR) companies that sell these products were selected. These companies were visited by students of Veterinary Medicine who pretended to be tutors of dogs and cats, questioning the sale of the drug. Regarding the way in which the medicine must be used,m in the 35 companies visited, in 33 (33/35; 94.28%) the attendants informed how to use the drug. In only one company the attendant reported on the risks of administering the product (1/35; 2.85%). Regarding the help of a veterinarian, only one company (1/35; 2.85%) did the attendant ask for help from this professional. It was inferred that most attendants do not adequately inform tutors about the use of contraceptives. After analyzing the conduct of the attendants in the way of commercializing contraceptives, 175 studants owners of dogs and cat were interviewed at the Paranaense University, Umuarama campus. Of the total owners (175), 145 are dog owners. When asked if they had already used contraceptives in their animals, most said they had never used it (136/145; 77.7%). However, 21.1% of owners said they had already used it (37/175). Among owenrs who have used contraceptives in female dogs and female cats (37/175; 21.1%), the majority used the medication as indicated by lay people (64.86%; 24/37). Most owners stated that they knew that contraceptive causes disease in animals (118/175; 67.4%). However, 31.4% (55/175) reported that they were unaware of the fact. Such results demonstrate that educational campaigns are needed for owners about responsible owenrship. Another stage of the work was carried out at the Veterinary Hospital of Universidade Paranaense. Twenty healthy female dogs were used who had never received contraceptive. Such females dogs were submitted to clinical and laboratory examination (blood count, biochemistry, vaginal cytology, abdominal ultrasound). After the examination, the contraceptive was administered in all female dogs by subcutaneous injection, in accordance with the manufacturer's instructions. After 30 days and 90 days, the females were again submitted to the same tests mentioned. At 90 days, the bitches were submitted to ovariohysterectomy. During the procedure, ovaries and uteri were collected for histopathological examination. It was possible to verify that, at 30 days, there were no changes in blood count and abdominal ultrasound. However, 12 bitches (60%) had mammary hyperplasia and two bitches (10%) had a skin reaction at the drug application site. At 90 days, it was observed that 18 bitches (90%) showed signs of cystic endometrial hyperplasia, and of these animals, five (27.77%) had content of purulent aspect in the uterine lumen. In the microscopic examination, only one female did not show pathological changes, being the only one who received the contraceptive in the correct phase (anestrus), indicated by the package insert. The other bitches showed changes that ranged from circulatory changes to severe cystic endometrial hyperplasia. Thus, it was possible to conclude that a single application of progestogens in healthy bitches can cause mild to severe complications, which requires that their administration be carried out exclusively under the guidance of a veterinarian, in order to minimize the chances of these damages occurring.
Bitch. Contraception. Cystic endometrial hyperplasia. Pet. Veterinary Care.