Estudo pré-clínico de segurança do uso crônico de Plinia cauliflora em ratos
Doutorado em Ciência Animal com Enfase em Produtos Bioativos
Autor: Karine Delgado Souza
Orientador: Emerson Luiz Botelho Lourenço
Defendido em: 03/04/2023
Produtos naturais vêm sendo cada vez mais utilizados como fontes de alimento e também para produção de medicamentos ao longo da história. Por conta de seu uso crescente, as indústrias farmacêuticas têm cada vez mais interesse por plantas com uso medicinal tradicional para o desenvolvimento de fitoterápicos e suplementos. Contudo, nem todas as plantas possuem efeitos benéficos a saúde apenas por serem naturais, algumas apresentam compostos os quais são tóxicos ao organismo, por isso, torna- se necessárias pesquisas para determinação do nível de toxicidade, quanto ao tempo de uso, a quantidade a ser ingerida e se há possibilidade ou não de associar a outros medicamentos. Uma planta que vêm sendo cada vez mais estudada é a Plinia cauliflora. Conhecida popularmente como jabuticaba, é pertencente à família Myrtaceae, e está amplamente distribuída pelo Brasil, sendo nativa da Mata Atlântica. A fruta é consumida fresca ou utilizada para a produção de licor, vinagre, vinho, suco e geleia. O uso terapêutico da P. cauliflora já é beneficamente comprovado por vários pesquisadores, sendo então uma ótima opção para o tratamento de várias doenças. Além disso, também foi mostrado que essa planta não possui efeitos colaterais e não afeta maleficamente nenhum dos sistemas do organismo. Mas, como os estudos foram feitos com períodos curtos de administração do extrato da P. cauliflora, é de grande importância que saibamos como essa planta reage no organismo sendo administrada durante um longo período, e por isso nosso grupo se propôs a estudar os efeitos após 180 dias de uso diário da P. cauliflora. Visto isso, esse trabalho objetivou realizar um estudo pré-clínico para comprovação da segurança do extrato da casca de P. cauliflora em solução de administração oral (gavagem) durante 180 dias. Para isto, foram utilizados 64 fêmeas e machos de Rattus norvegicus, da linhagem Wistar com 90 a 100 dias de vida. Os animais foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos, por sexo (n= 4 a 8) e tratados diariamente durante 180 dias. O grupo controle recebeu amido, e os três grupos experimentais foram tratados com três doses diferentes do extrato seco da casca de P. cauliflora: 3, 30 e 300 mg/kg. Após a eutanásia, fígado, rins, baço, cérebro e coração foram retirados e pesados em balança analítica, para obtenção do peso relativo dos respectivos órgãos. Também foi realizada a análise histopatológica dos seguintes tecidos: coração, rins, baço, cérebro e fígado. Para as análises hematológicas e bioquímicas, foram utilizados o sangue do plexo ocular, e o sangue total, respectivamente. Os resultados demonstraram que o uso crônico do extrato da P. cauliflora pelas diferentes doses não causou alterações prejudiciais na morfologia dos órgãos analisados. Pelo contrário, no peso relativo dos órgãos, a jabuticaba preveniu uma possível hiperplasia hepática. Apesar das diferenças estatísticas encontradas entre os grupos, todos os animais fêmeas obtiveram valores de Creatinina dentro dos valores de referência. Os valores de Gama GT também foram todos normais em todos os tratamentos. O aspartato aminotransferase (AST) apresentou resultados dentro das referências estudadas, porém observamos que nos grupos que receberam 30 e 300mg/kg da P. cauliflora houve diminuição dos valores, mostrando que a jabuticaba teve efeito protetor nesses animais. Nos índices da Alanina Aminotransferase (ALT) também foi observado efeito protetor da jabuticaba, pois houve uma diminuição gradativa nos valores conforme a dose de P. cauliflora foi aumentando, até que no grupo que foi administrado 300mg/kg dessa planta os valores já se encontraram normais. Os valores da Ureia no grupo controle e no grupo que recebeu 3mg/kg de jabuticaba estavam altos, mas nos grupos de 30 e 300mg houve diminuição gradativa desses números, e estes já ficaram dentro do valor de referência, mostrando mais uma vez o efeito protetor da P. cauliflora. Nos animais machos, os valores de creatinina estavam fora do valor de referência, porém com a dosagem de 30mg/kg da jabuticaba foi possível alcançar o valor normal desse parâmetro. A GGT (gama glutamil transferase), AST (aspartato aminotransferase), ALT (alanina aminotransferase), ureia e FA (fosfatase alcalina) estavam todos dentro dos valores de referência, mas mesmo assim foi possível observar a diminuição desses valores com o tratamento utilizando a jabuticaba, demonstrando seu efeito protetor. Outros estudos já mostraram que o uso da P. cauliflora não causa efeitos significativos nos sistemas cardiovascular, respiratório e nervoso central. Em todas as doses utilizadas, a jabuticaba não causou mudanças na contagem total ou diferencial de leucócitos em ratos machos e fêmeas. O extrato da casca da P. cauliflora* não apresentou quaisquer sinais de toxicidade, e pelo contrário, em muitos parâmetros mostrou proteção e fez com que índices que estavam fora de seu valor de referência se normalizassem.
histopatologia, bioquímica, hemograma, jabuticaba.
Preclinical safety studies of the use of repeated doses of Plinia cauliflora in rats.
Natural products have been used as food sources and also for the production of medicines throughout history. Due to their growing use, pharmaceutical industries are very interested in plants with traditional medicinal use for the development of herbal medicines and supplements. However, not all plants have good health effects just because they are natural, some have compounds that are toxic to the body, therefore, research is necessary to determine the level of toxicity, the time of use, the amount to be be ingested and if They can be associated to with other medications. A plant that has been studied is Plinia cauliflora. Popularly known as jabuticaba, it belongs to the Myrtaceae family, and is widely distributed throughout Brazil, being native to the Atlantic Forest. The fruit is consumed fresh or used for the production of liqueur, vinegar, wine, juice and jam. The therapeutic use of P. cauliflora has already been beneficially proven by several researchers, making it a great option for the treatment in a lot of diseases. In addition, it has also been shown that this plant has no side effects and does not adversely affect any of the body's systems. But, as the studies were carried out with short periods of administration of the extract of P. cauliflora, it is very important that we know how this plant reacts in the body when administered in long time, and for this reason our group proposed to study the effects after 180 days of daily use of P. cauliflora. Given this, this work aimed to carry out a preclinical study to prove the safety of a dry extract from the peels of P. cauliflora in solution for oral administration (gavage) for 180 days. For this, 64 females and males of Rattus norvegicus, from the Wistar lineage, with 90 to 100 days of life, were used. The animals were randomly distributed into four groups, by sex (n= 4 to 8) and treated daily for 180 days. The control group received starch, and the three experimental groups were treated with three different doses of a dry extract from the peels of P. cauliflora: 3, 30 and 300 mg/kg. After euthanasia, the liver, kidneys, spleen, brain and heart were removed and weighed on an analytical scale to obtain the relative weight of the respective organs. Histopathological analysis of the following tissues was also performed: heart, kidneys, spleen, brain and liver. For hematological and biochemical analyses, blood from the ocular plexus and whole blood, respectively, were used. The results showed that the chronic use of P. cauliflora extract at different doses did not cause harmful changes in the morphology of the analyzed organs. Actually, in the relative weight of the organs, jabuticaba prevented a possible hepatic hyperplasia. Despite the statistical differences found between the groups, all female animals obtained Creatinine values within the reference values. Gamma GT values were also all normal in all treatments. Aspartate aminotransferase (AST) presented results within the studied references, however we observed that in groups that received 30 and 300mg/kg of P. cauliflora there was a decrease in values, showing that jabuticaba had a protective effect in these animals. In Alanine Aminotransferase (ALT) indices, a protective effect of jabuticaba was also observed, as there was a gradual decrease in values as the dose of P. cauliflora increased, until the values were found in the group that received 300mg/kg of this plant was normal. Urea values in the control group and in the group that received 3mg/kg of jabuticaba were high, but in the 30 and 300mg groups there was a gradual decrease in these numbers, and they were already within the reference value, showing once again the protective effect from P. cauliflora. In male animals, creatinine values were outside the reference value, but with a dosage of 30mg/kg of jabuticaba it was possible to reach the normal value of this parameter. GGT (gamma glutamyl transferase), AST (aspartate aminotransferase), ALT (alanine aminotransferase), urea and FA (alkaline phosphatase) were all within the reference values, but even so it was possible to observe a decrease in these values with the treatment using the jabuticaba, demonstrating its protective effect. Other studies have already shown that the use of P. cauliflora does not cause significant effects on the cardiovascular, respiratory and central nervous systems. At all doses used, jabuticaba did not cause changes in total or differential leukocyte counts in male and female rats. The dry extract from the peels of P. cauliflora did not show any signs of toxicity, actualy, in many parameters it showed protection and made indices that were outside their reference value normalize.
histopathology, biochemical, blood count, jabuticaba.