Pesquisa
Levantamento de plantas medicinais utilizadas e/ou cultivadas pelos moradores do distrito de São Silvestre/Cruzeiro do Oeste-PR
Mestrado Profissional em Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica
Autor: Marina Pereira da Silva Bocchio Barbosa
Orientador: Ezilda Jacomassi
Defendido em: 07/03/2025
Resumo
A finalidade terapêutica das plantas medicinais é conhecida desde os tempos mais remotos, por inúmeras comunidades em todo o mundo. Mesmo em tempos atuais, mais modernos e tecnológicos, houve o fortalecimento de políticas públicas de saúde que apoiaram o uso de plantas medicinais, contribuindo para a democratização do acesso do usuário à saúde, visto que em certas comunidades se torna a única forma de tratamento e cura de várias doenças. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo realizar o levantamento das plantas medicinais utilizadas e/ou cultivadas pelos moradores de São Silvestre, distrito do município de Cruzeiro do Oeste/PR, com a finalidade de resgatar o uso para fins de tratamento em saúde orientando sua correta utilização. Para tanto, os dados foram coletados a partir de entrevistas estruturadas e posteriormente realizada a coleta e identificação botânica das plantas cultivadas pelos entrevistados. O instrumento de coleta de dados foi elaborado visando atender os resultados dos dados sociodemográficos e as informações sobre o uso e cultivo de plantas medicinais pelos moradores do referido distrito, bem como ressaltar as principais plantas utilizadas e/ou cultivadas. A amostra foi de 63 pessoas, considerando um erro amostral tolerável de 5%. Desta forma, a escolha das famílias foi realizada pela rede de relações, sendo entrevistado apenas um integrante de cada família, com idade superior a 18 anos, iniciando pela indicação do agente comunitária de saúde. A análise dos dados foi realizada no programa estatístico IBM SPSS v. 21.0, onde foi calculada a frequência absoluta (n) e relativa (%) das variáveis categóricas em estudo. Para verificar associação entre as variáveis respostas avaliadas em função do sexo, idade e escolaridade, os dados foram analisados por meio de tabulações cruzadas sendo verificado associação entre os diferentes fatores por meio do teste qui-quadrado de Pearson, exato de Fisher ou teste Qui-quadrado com correção de yates. Quando o teste foi caracterizado como não válido, valores percentuais resultantes do teste qui-quadrado de Pearson foram analisados posteriormente considerando que a diferença entre a célula observada e esperada é estatisticamente significativa quando resíduo padronizado ajustado foi superior a 1,96 ou inferior a -1,96 (alfa de 5%). Valores percentuais do teste não válidos seguidos de diferentes letras/categorias foram analisados posteriormente em tabelas 2x2 pelo teste de exato de Fisher. Os resultados obtidos demostraram que em relação ao perfil dos entrevistados, prevaleceram as mulheres (79,4%), com 60 anos ou mais (50,8%), casadas (63,5%), possuindo escolaridade em nível fundamental e médio, completo ou não completo (77,8%), com renda familiar até dois salários mínimos (76,2%), compartilhando o quantitativo de 2 a 4 pessoas no domicílio (63,5%). Os entrevistados afirmaram fazer uso de plantas medicinais (98,4%), essas cultivadas em casa, obtendo conhecimento do uso por meio de familiares (90,5%), sendo mais utilizada pela população de adultos e idosos (47,6%). Foram elencadas três espécies mais usadas entre as 10 mais citadas na pesquisa, sendo elas: hortelã/Mentha crispa (36,5%); erva-cidreira/Cymbopogon citratus (28,6%); boldo/Plectranthus barbatus (15,9%) e outras (19,6%). Como foi obtido o conhecimento das plantas, destacou-se como principal informante a família (90,5%), adquirido uma porção menor de conhecimento por meio da Internet (9,5%), já que a maior parte das plantas obtidas são cultivadas em casa (88,9%), e a minoria adquirida por meio de compra (11,1%). Os problemas digestórios (34,9%), problemas respiratórios (19,0%) e outros problemas (46,0%), foram indicados como o principal motivo no uso de plantas medicinais, consumidas na forma de chás (84,1%), ou seja, infusão ou decocção, como também usado através outras formas (15,9%). Verificou-se que os órgãos vegetativos (98,4%), são mais usados no preparo quando comparado com toda planta (1,6%), num período de 1 a 3 dias (66,7%), de 4 a 7 dias (4,8%) ou por período indeterminado (28,6%). Os adultos e idosos (47,6%) são os mais utilizadores deste recurso, apontando um consumo menor por crianças (9,5%) e afirmando que, em geral, todos os familiares fazem uso (42,9%). Ao primeiro sinal de sintomas, os entrevistados optam por recorrer primeiro a farmácia comercial (50,8%), seguido das plantas medicinais (49,2%) como segunda opção. O estudo ainda mostrou que os moradores reconhecem a vantagem em adotar este tipo de tratamento por ser um método natural (82,5%), entre outras causas (17,5%); mantendo o hábito de difundir seus conhecimentos (81%) quando comparados aos que fazem uso, mas não difundem (19%). Dessa forma, pode-se concluir que, de fato, as plantas medicinais são utilizadas e/ou cultivadas pelos moradores de São Silvestre, cujo o conhecimento do uso de desse recurso terapêutico ocorre de aprendizados não formais, e que são passados por familiares ou pessoas próximas, principalmente as que residem em comunidades menores. Nesse contexto, a necessidade de explorar as plantas tradicionais cultivadas pela comunidade local, respalda a aplicação dessa terapia alternativa, oferecendo maior segurança e melhor eficácia tanto no modo de consumo pelo usuário, quanto pela prescrição pelo profissional. Vale ressaltar que o presente estudo servirá como base para a elaboração de panfletos informativos, como estímulo à conservação do conhecimento e do uso racional das plantas medicinais, estabelecendo um elo entre o saber cientifico e o saber popular
Palavras-chave
Conhecimento popular. Espécies medicinais. Horta de plantas medicinais. Atenção primária.
Title
Survey of medicinal plants used and/or cultivated by residents of the district of São Silvestre/Cruzeiro do Oeste-Pr.
Abstract
The therapeutic purpose of medicinal plants has been known since ancient times by countless communities around the world. Even in current, more modern and technological times, there has been a strengthening of public health policies that support the use of medicinal plants, contributing to the democratization of users' access to health, since in certain communities it becomes the only form of treatment and cure for various diseases. In this context, the aim of this study was to survey the medicinal plants used and/or cultivated by the residents of São Silvestre, a district in the municipality of Cruzeiro do Oeste/PR, with the aim of rescuing their use for health treatment purposes and guiding their correct use. To this end, data was collected through structured interviews and then the botanical identification of the plants cultivated by the interviewees. The data collection instrument was designed primarily to meet the proposed objectives of sociodemographic data and information on the use and cultivation of medicinal plants by the residents of the district, as well as highlighting the main plants used and/or cultivated. The sample consisted of 63 people from the district of São Silvestre, with a tolerable sampling error of 5%. The families were chosen based on their network of relationships, and only one member of each family over the age of 18 was interviewed, starting with a referral from the community health worker. Data analysis was carried out using the IBM SPSS v. 21.0 statistical program, where the absolute (n) and relative (%) frequencies of the categorical variables under study were calculated. In order to verify the association between the response variables assessed according to gender, age and schooling, the data was analyzed using cross-tabulations and the association between the different factors was verified using Pearson's chi-square test, Fisher's exact test or the chi-square test with yates' correction. When the test was found to be invalid, the percentage values resulting from Pearson's chi-square test were then analysed, considering that the difference between the observed and expected cell is statistically significant when the adjusted standardized residual is greater than 1.96 or less than -1.96 (alpha of 5%). Percentage values from the invalid test followed by different letters/categories were then analyzed in 2x2 tables using Fisher's exact test. The results obtained showed that with regard to the profile of those interviewed, the majority were women (79.4%), aged 60 or over (50.8%), married (63.5%), with elementary and high school education, complete or not complete (77.8%), with a family income of up to two minimum wages (76.2%), sharing between 2 and 4 people in the household (63.5%). The interviewees said that they used medicinal plants (98.4%), which were grown at home, obtaining knowledge of their use from family members (90.5%), and were most used by adults and the elderly (47.6%). Four of the 10 most commonly used species in the survey were listed: mint/Mentha crispa (36.5%); lemon balm/Cymbopogon citratus (28.6%); boldo/Plectranthus barbatus (15.9%) and others (19.6%). The main source of knowledge about the plants was the family (90.5%), with a smaller proportion of knowledge acquired through the Internet (9.5%), since most of the plants obtained are home-grown (88.9%), and the minority acquired through purchase (11.1%). Digestive problems (34.9%), respiratory problems (19.0%) and other problems (46.0%), were indicated as the most common cause of use of medicinal plants, consumed in the form of teas (84.1%), i.e. infusions or decoctions, but also used in other forms (15.9%). It was found that the vegetative organs (98.4%) are most commonly used in the preparation when compared to the whole plant (1.6%), for a period of 1 to 3 days (66.7%), 4 to 7 days (4.8%) or for an indefinite period (28.6%). Adults and the elderly (47.6%) are the biggest users of this resource, with children consuming less (9.5%) and stating that, in general, all family members use it (42.9%). At the first sign of symptoms, the interviewees chose to turn first to a commercial pharmacy (50.8%), followed by medicinal plants (49.2%) as their second option. The study also showed that residents recognize the advantage of adopting this type of treatment because it is a natural method (82.5%), among other reasons (17.5%); while maintaining the habit of spreading their knowledge (81%) compared to those who use it but don't spread it (19%). It can therefore be concluded that medicinal plants are in fact used and/or cultivated by the residents of São Silvestre, whose knowledge of the use of this therapeutic resource comes from non-formal learning and is passed on by family members or people close to them, especially those who live in smaller communities. In this context, the need to explore the traditional plants cultivated by the local community supports the application of this alternative therapy, offering greater safety and better efficacy both in the way it is consumed by the user and in the way it is prescribed by the professional. It is worth mentioning that this study will serve as a basis for the preparation of information leaflets, as a stimulus to the conservation of knowledge and the rational use of
Keywords
Popular knowledge. Medicinal species. Medicinal plant garden. Primary care.